Momento
São os pequenos instantes irrepetíveis que preenchem a nossa existência.
sexta-feira, junho 30, 2006
quinta-feira, junho 29, 2006
quarta-feira, junho 28, 2006
terça-feira, junho 27, 2006
segunda-feira, junho 26, 2006
Vidas difíceis
É uma coisa estranhíssima esta de gostar de ser chato, de fazer gala em andar tristonho ou mal-disposto, de dizer mal de tudo e culpar o mundo pela nossa tristeza. O tuga é um ser depressivo por natureza, prefere suspirar a respirar, andar de orelha murcha a levantar a cabeça, arrastar os pés a caminhar num compasso seguro.
Por que é que nunca estamos contentes com o que temos? Depois de um Verão que parecia norueguês, eis que o Outono chegou poético, dourado pelos tapetes das folhas de plátanos e profícuo em fins de semana cheios de sol e de luz que dão para grandes passeatas na praia e no campo, atrasam o inauguração das lareiras e nos fazem poupar uma massas nas contas de electricidade.
Mas neste país de chatos e de queixosos, toda a gente reclama a chegada do Inverno. Eu também adoro estar fechada em casa a ouvir a música da chuva, sou a rainha dos cachecóis e a princesa dos barretes, a minha colecção de luvas é extensa e variada e não há nada mais confortável do que umas meias de lã quentinhas, cheias de Mickeys ou Patetas, mas bolas, por que é que não levantamos os braços e agradecemos a Deus ou a qualquer outra entidade divina que seja do nosso clube, este Inverno abençoado e luminoso? Porque nós, tugas da Silva, além de sermos uns grandessíssimos chatos, gostamos de ser chatos.
É uma coisa estranhíssima esta de gostar de ser chato, de fazer gala em andar tristonho ou mal-disposto, de dizer mal de tudo e culpar o mundo pela nossa tristeza. O tuga é um ser depressivo por natureza, prefere suspirar a respirar, andar de orelha murcha a levantar a cabeça, arrastar os pés a caminhar num compasso seguro. Mas está no sangue do tuga, ou no ADN, ou onde vocês quiserem, faz parte da nossa cultura. Por isso é que eu gosto dos ribatejanos. Nisso, são os menos tugas de todos.
O beirão é fechado, o portuense é rabugento, o alentejano é passivo e o algarvio é malandro. Mas o ribatejano é uma coisa que nenhum desse é, e que só o minhoto lhe chega aos calcanhares; o ribatejano é alegre. Canta o fado com alegria, dança o corridinho com energia, briga com o vizinho com mestria, toureia com galanteria, seduz com arte, embebeda-se com paixão e ama a Lezíria do fundo do coração. Conversa fiada, parece-vos, mas eu sei muito bem do que estou a falar e é por isso que, quando a cidade me enjoa, me meto no meu lindo Peugeot 307 azul-escuro e lá vou para o Ribatejo, olhar o rio e namorar as suas margens, subir à portas do sol e beber a vista a perder de vista, respirar a largueza e falar com eles.
E sinto-me em casa, à mesa de uma tasca a beber tinto ou em casa de amigos, à lareira, a contar anedotas e peripécias.
Cá fora, o frio corta a cara, o vento fala com as árvores, pássaros e coelhos malucos correm pela quinta, os cães ladram e como estamos no campo não passa nenhuma caravana nem se passa nada, que é a melhor forma de passar o tempo. As crianças pulam como cabritos, ao fundo passa um rebanho de ovelhas com o pastor e os seus cães, o riacho conversa comigo e eu conto-lhe segredos e o fim-de-semana é um paraíso de pão saloio, febras, castanhas assadas e bacalhauzadas no forno.
Regresso domingo à noite com o sonho de um dia me instalar no campo, olhar pela janela e ver o verde a perder de vista, ouvir mochos e outros passarucos a embalarem-me o sono, imaginar as flores a crescer e as maçãs a cair das árvores e acordar com gotas de orvalho na cara, deixadas ao acaso por uma qualquer fada afoita e cumpridora.
Enquanto houver sol e luz, não se queixem, meus tugas da Silva, metam-se no carro e vão para a praia falar com o mar ou para o campo, ver tios, primos e avós que nunca visitamos. Aproveitem este país delicioso e tranquilo, onde num raio de poucos quilómetros há praia, campo e montanha, praças seculares, igrejas espantosas e grutas de cortar a respiração, ruínas de cidades romanas, serras poéticas e planícies verdes e perfeitas.
E não se queixem das vidas difíceis, que por aqui há muito sol e muito sossego, não estamos em guerra nem dominados por nenhuma corja taliban; isto é um paraíso, é preciso respirá-lo, aproveitá-lo explorá-lo e saboreá-lo até ao fim das nossas vidas.
MRP
domingo, junho 25, 2006
M u N d O
O mundo nunca é o mundo como ele é, mas apenas a soma redutora daquilo que vemos com o que conseguimos imaginar. No meu caso, vejo mais o mundo como um somatório de aberrações que preferia que não fossem verdade. Por vezes, vivo atormentada com a ideia que a minha vida é como um paraíso porque tenho saúde, todos aqueles que mais amo estão vivos e perto de mim, sou muito feliz com o meu trabalho e tenho os melhores amigos do mundo. E acima de tudo isso, tenho a quem dar o meu amor e sinto que ao dar o meu amor, esse amor cresce mais e mais todos os dias e deve ser isto a que os sábios chamam felicidade. Não estou só, nunca fui abandonada, nunca perdi a noção do tempo nem do espaço, nunca senti que a minha vida era uma inutilidade adiada. Vejo a minha existência como um tesouro e sinto-me protegida. Mas o mundo abre-me os olhos para muitos outros mundos, em que há pessoas que não têm nem nunca tiveram metade do que tenho. E essa sensação de impotência cansa-me porque sinto que nunca é suficiente a minha ajuda.
No entanto, tento dar-lhes alento e força de modo a viverem cada instante tirando o máximo proveito de cada bocadinho que respiram. E acredito, que nessas alturas, um dia de tristeza pode ser substituído por breves momentos de partilha tornando as pessoas conscienciosas do quanto valem e do propósito que têm nesta vida.
sábado, junho 24, 2006
Ainda há príncipes encantados
Se está à espera do Dia dos Namorados para arranjar um, não fique sentada. Faça como uma amiga minha que cada vez que sai do carro, vira o retrovisor para o lado do condutor, retoca o batom e diz com uma convicção demolidora o Príncipe pode estar em qualquer lado. E pode mesmo. É uma questão de fé, totalmente arbitrária e alietória, mas pode acontecer. Até porque nós, os extraordinários, somos poucos, mas andamos por aí. Isto é o que diz outro amigo meu que por acaso é mesmo extraordinário e já encontrou a pessoa certa, pelo menos por enquanto. Foi ele que um dia me explicou o que era esse maravilhoso conceito da pessoa certa.
A pessoa certa não é a mais inteligente, a que nos escreve as mais belas cartas de amor, a que nos jura a paixão maior ou nos diz que nunca se sentiu assim. Nem a que se muda para nossa casa ao fim de três semanas e planeia viagens idílicas ao outro lado do mundo. A pessoa certa é aquela que quer mesmo ficar connosco. Tão simples quanto isto. Às vezes demasiado simples para as pessoas perceberem. O que transforma um homem vulgar no nosso príncipe é ele querer ser o homem da nossa vida. E há alguns que ainda querem.
Os verdadeiros Príncipes Encantados não têm pressa na conquista porque como já escolheram com quem querem passar o resto da vida, têm todo o tempo do mundo; levam-nos a comer um prego no prato porque sabem que no futuro nos vão levar à Tour d?Argent; ouvem-nos com atenção e carinho porque se querem habituar à música da nossa voz e entram-nos no coração bem devagar, respeitando o silêncio das cicatrizes que só o tempo pode apagar. Podem parecer menos empenhados ou sinceros do que os antecessores, mas aquilo a que chamamos hesitação ou timidez talvez seja apenas uma forma de precaução para terem a certeza que não se vão enganar.
O Príncipe Encantado não é o namorado mais romântico do mundo que nos cobre de beijos; é o homem que nos puxa o lençol para os ombros a meio da noite para não nos constiparmos ou se levanta às três da manhã para nos fazer um chá de limão quando estamos com dores de garganta. Não é o que nos compra discos românticos e nos trauteia canções de amor no voice mail, é o que nos ouve falar de tudo, mesmo das coisas menos agradáveis. Não é o que diz Amo-te, mas o que sente que talvez nos possa amar para sempre. Não é o que passa metade das férias connosco e a outra metade com os amigos; é que passa de vez em quando férias com os amigos. O Príncipe que sabe o que quer, não é o melhor namorado do mundo; é o marido mais porreiro do mundo, porque não é o que olha todos os dias para nós, mas o que olha por nós todos os dias. Que tem paciência para os meus, os teus, os nossos filhos e que ainda arranja um lugar na mesa para os filhos dos outros. Que partilha a vida e vê em cada dia uma forma de se dar aos que lhe são próximos. Que ajuda os mais velhos a fazer os trabalhos de casa e põe os mais novos a dormir com uma história de encantar. Que quando está cansado fica em silêncio, mas nunca deixa de nos envolver com um sorriso. Não precisa de um carro bestial, basta-lhe uma música bestial para ouvir no carro. Pode ou não ter moto, mas tem quase sempre um cão. Gosta de ler e sai pouco à noite porque prefere ficar em casa a namorar e a ver o Zapping. Cozinha o básico, mas faz os melhores ovos mexidos do mundo e vai à padaria num feriado. O Príncipe é um Príncipe porque governa um reino, porque sabe dar e partilhar, porque ajuda, apoia e nos faz sentir que somos mesmo muito importantes.
Claro que com tantos sapos no mercado, bem vestidos, cheios de conversa e tiradas poéticas, como é que não nos enganamos? É fácil. Primeiro, é preciso aceitar que às vezes nos enganamos mesmo. E depois, é preciso acreditar que um dia podemos ter sorte. E como o melhor de estar vivo é saber que tudo muda, um dia muda tudo e ele aparece. Depois, é só deixa-lo ficar um dia atrás do outro... e se for mesmo ele, fica.
Margarida Rebelo Pinto
sexta-feira, junho 23, 2006
Estou feliz
Viva o dia 23 de Junho de todos os anos. Ordenado e subsídio de férias dão para resolver um cem número de coisas.
quinta-feira, junho 22, 2006
Gosto muito
da lua cheia
do silêncio puro
da geometria de algumas ruas
dos dias compridos
de abraços demorados
de sorrisos no elevador
de pessoas autênticas
de conversas eternas
das janelas todas abertas sobre o rio e a cidade
de luzes baixas e amarelas dentro de casa
de quadros grandes
da cor do fogo
de todas as estrelas do céu
do sol da manhã e da luz do dia
do barulho do mar ao entardecer
da maré vazia ao fim do dia
do vento quando deixa marcas na areia lisa
do rumor vegetal das folhas nas árvores
do manto lilás de folhas de jacarandá que cobre o chão
de coincidências, surpresas e milagres
de ver pessoas felizes
de olhos que riem
de cidades grandes com rio
da voz dos que amo
de estar calada
da casa cheia de amigos
de jantares improvisados
de ouvir tocar piano e violino sempre
de ficar abstracta, às vezes
de livros e de poetas
de acordar tarde
de certas rotinas
de me esquecer das horas
da areia da praia ao meio dia, quando está a ferver
das vozes descombinadas no ar nas tardes de calor
do rapaz que passa na mota, ao meu lado
de quando sai a correr para a última fotografia com a luz do dia
dele muito mais do que de ninguém
de saber que ele sabe disso
gosto da luz dourada do entardecer reflectida nos seus olhos
gosto da intimidade
da verdade e da cumplicidade
de templos e lugares sagrados
de horizontes líquidos
do azul infinito
de riscos brancos no céu
da cor púrpura do entardecer
de histórias de pessoas
de descobrir umas mãos fortes
de ir mais longe com alguém
dos que oram comigo
da lua árabe só com uma estrela, no alto do céu
de ficar em casa, embalada nos barulhos da casa
de ainda ter comigo todos os que mais amo
de adormecer e de sonhar acordada
de amar e ser amada
de alguém em especial
do amor dos amigos também
de estar com eles na praia até ser noite
de tantas outras coisas
e da vida, todos os dias.
terça-feira, junho 20, 2006
domingo, junho 18, 2006
Resultado
Você é a Selecção de Portugal:
Você até tem um certo jeito, e de vez em quando faz um brilharete; mas geralmente anda um bocado à nora. A organização não é o seu forte, você confia em absoluto no instinto. Você é pão-pão queijo-queijo: tudo ou nada! Acha sempre que vai conseguir ter tudo, mas, aqui entre nós, ou fica lá muito perto ou dá uma monumental barraca.
sábado, junho 17, 2006
sexta-feira, junho 16, 2006
quarta-feira, junho 14, 2006
Hoje verifiquei duas coisas
O IC 19 não tem hora de ponta. O trânsito aparece de todos os lados e a qualquer hora.
Greve!!! Só para os professores que não têm problemas financeiros.
terça-feira, junho 13, 2006
E não se calam...
Oh Stôra vai dar-me o 3?
Se eu tiver positiva agora dá para o 3? Não dá?
Dou por mim a "bufar" mentalmente e respondo bom dia ou boa tarde consoante a hora do dia.
segunda-feira, junho 12, 2006
domingo, junho 11, 2006
sábado, junho 10, 2006
Profissão de Professor
Aspectos que toda a gente parece ignorar sobre a profissão de
professor e que será bom esclarecer:
1º.Esta é uma profissão em que a imensa maioria dos seus
agentes trabalha (em casa e de graça, entenda-se) aos sábados,
domingos, feriados, madrugada adentro e muitas vezes, até nas férias!
Férias, sim, e sem eufemismos, que bem precisamos de pausas ao longo
do ano para irmos repondo forças e coragens. De resto, é o que
acontece nos outros países por essa Europa fora, às vezes com muito
mais dias de folga do que nós: 2 semanas para as vindimas em Setembro/
Outubro, mais duas para a neve em Novembro, 3 no Natal e mais 3 na
Páscoa , 1 ou 2 meses no verão.
2º.É a única profissão em que se tem falta por chegar 5 minutos
atrasado (também neste caso, exigirá a senhora Ministra um pré-aviso
com 5 dias de antecedência?)
3º.É uma profissão que exclui devaneios do tipo "hoje preciso
de sair meia hora mais cedo", ou o curriqueiro "volto já" justificando
a porta fechada em horas de expediente.
4º.É uma profissão que não admite faltas de vontade e
motivação ou quaisquer das ' ronhas' que grassarão, por exemplo, no ME
(quem duvida?) ou na transparente AR.
5º.É uma profissão de enorme desgaste. Ainda há bem pouco tempo
foi divulgado um estudo que nos colocava na 2ª posição, a seguir aos
mineiros, mas isto, está bom de ver, não convém a ninguém lembrar? E
olhe que não, senhor secretário de estado, a escola da reportagem da
RTP1 não é, nem de longe, caso "único, circunscrito e controlado"!
6º.É uma profissão que há muito deixou de ser acarinhada ou
considerada, humana e socialmente. Pelo contrário, todos os dias somos
agredidos ? na nossa dignidade ou fisicamente (e as cordas vocais não
são um apêndice despiciendo?) , enxovalhados na praça pública,
atacados e desvalorizados, na nossa pessoa e no nosso trabalho, em
todas as frentes, nomeadamente pelo "patrão" que, passe a metáfora
económica tão ao gosto dos tempos que correm?, ao espezinhar
sistematicamente os seus "empregados" perante o "cliente", mais não
faz do que inviabilizar a "venda do produto"
7º.É uma profissão em que se tem de estar permanentemente a
100%, que não se compadece com noites mal dormidas, indisposições
várias (físicas e psíquicas) ou problemas pessoais ?
8ºÉ uma profissão em que, de 45 em 45, ou de 90 em 90 minutos,
se tem de repetir o processo, exigente e desgastante, quer de chegar
a horas, quer de "conquistar" , várias vezes ao longo de um mesmo dia
de trabalho, um novo grupo de 20 a 30 alunos (e todos ao mesmo tempo,
não se confunda uma aula com uma consulta individual ou a gestão
familiar de 1, 2, até 6 filhos...)
9º.É uma profissão em que é preciso ter sempre a energia
suficiente (às vezes sobre-humana) para, em cada turma, manter a
disciplina e o interesse, gerir conflitos, cumprir programas, zelar
para que haja material de trabalho, atenção, concentração, motivação e
produção. (Batemos aos pontos as competências exigidas a qualquer dos
nossos milionários bancários, dos inefáveis empresários, dos
intocáveis ministros! Ao contrário deles, e como se não bastasse tudo
o que nos é exigido (da discrepância salarial e demais benesses não
preciso nem falar)?
10º.Ainda somos avaliados, não pelo nosso próprio desempenho, mas
pelos sucessos e insucessos, os apetites e os caprichos dos nossos
alunos e respectivas famílias, mais a conjuntura política, económica e
social do nosso país!
Assim, é bom que a "cara opinião pública" comece a perceber por que é
que os professores "faltam tanto":
Para além do facto de, nas suas "imensas" faltas, serem contabilizadas
também situações em que, de facto, estão a trabalhar :
- no acompanhamento de alunos em visitas de estudo,
- em acções, seminários, reuniões, para as quais até podem ter sido
oficialmente convocados,
- para ficarem a elaborar ou corrigir testes e afins , que não é
suficiente o tempo atribuído a essas tarefas ,
- ou, como vem sucedendo ultimamente, a fazerem (em casa, que é o
sítio que lhes oferece condições) horas e horas não contabilizadas do
obrigatório "trabalho de escola"?.
Para além disto, e não é pouco, há pelo menos, como acima se terá
visto, toda uma lista de 10 boas e justificadas razões para que o
façam.